(Foto: Buda Mendes / Getty Images)
A CBF emitiu nesta quarta-feira, 22, uma nota oficial se posicionando a respeito da confusão ocorrida no Maracanã, antes da partida entre Brasil e Argentina pela sexta rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. A entidade afirma que planejamento do jogo foi feito de forma cuidadosa e que as autoridades sabiam que não haveria separação entre as torcidas. Além disso, a CBF também defende que em jogos da seleção brasileira nunca há esta separação, afinal este é o protocolo da FIFA.
Antes mesmo no início do jogo da última terça-feira, uma confusão generalizada ocorreu na arquibancada do Maracanã. A briga teria se iniciado após a execução do hino nacional da Argentina porque alguns brasileiros estavam vaiando. Após alguns minutos, o policiamento do estádio chegou ao local, e a situação se tornou um confronto violento entre os argentinos e a polícia. Durante a transmissão, foi possível observar nas imagens policiais agredindo torcedores, alguns deles ficaram encurralados contra uma parede daquele setor da arquibancada. Após a confusão se agravar, todo o elenco da seleção argentina foi em direção àquele setor da arquibancada, acompanhado do capitão do Brasil, Marquinhos, para tentar apaziguar a situação. Lionel Messi tirou a sua equipe de campo, o que atrasou o início da partida em quase trinta minutos.
De acordo com a Polícia Militar do Rio de Janeiro, oito pessoas foram detidas. "Ao todo, oito pessoas foram conduzidas ao Juizado Especial Criminal. De acordo com o comando da unidade, a confusão teve início durante a execução do hino nacional da equipe visitante.", explicou a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro em nota oficial.
A nota também chama atenção ao fato de não ter havido separação entre torcidas. "Cabe ressaltar que, não havia divisão entre torcidas nos setores do Estádio do Maracanã, por conta da venda de ingressos sem distinção entre as torcidas, o que foi definido pela organização do evento.", diz a PMRJ, sem especificar se a "organização do evento" se refere à CBF ou à administração do Maracanã.
Em sua nota, a CBF reforça que houve diálogo com os órgãos públicos competentes do estado do Rio de Janeiro e que eles tinham ciência do planejamento para o evento.
"É importante esclarecer que a organização e o planejamento da partida foram realizados de forma cuidadosa e estratégica pela CBF, em conjunto e em constante diálogo com todos os órgãos públicos competentes, especialmente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Todo o planejamento do jogo, em especial os planos de ação e o de segurança, foi sim debatido com as autoridades públicas do Rio de Janeiro em reuniões realizadas entre as partes."
A confederação também cita uma reunião com as autoridades do estado e a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ), que é de praxe para jogos no estado. A reunião ocorreu na última quinta-feira, 16. Vale salientar que naquele momento, a venda de ingressos para a partida já havia começado, sem nenhuma distinção entre torcidas.
"Os planos de ação e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades presentes. Participaram da primeira reunião realizada na sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), no dia 16 de novembro de 2023, às 11:00, representantes da Polícia Militar RJ, SEPOL, Ministério Público, Juizado do Torcedor, na esfera da segurança pública, além de outros órgãos como a Guarda Municipal, CET-RIO, Subprefeitura, Concessionária Maracanã, SEOP."
Entretanto, como foi divulgado pelo jornalista Pedro Ivo Almeida da ESPN Brasil, nesta reunião a partida foi clasificada como "bandeira vermelha" em uma escala de risco. Ou seja, existia uma alta possibilidade de confronto entre as torcidas. Contudo, a ata não foi levada em consideração pela CBF.
A estrutura do estádio do Maracanã não é pensada para separação entre torcidas. Portanto, em jogos do futebol brasileiro em que esta prática acontece, determinados setores da arquibancada são fechados para que desta forma se possa manter torcedores de times diferentes em setores distintos. Para fazer o mesmo na partida entre Brasil e Argentina, seria necessário que menos ingressos fossem colocados à venda.
Quase todos os envolvidos que foram detidos já foram liberados mediante à multa por transação penal no juizado instalado dentro do Maracanã. A única exceção é uma torcedora Argentina que foi detida após a partida por desacato e injúria racial. No Brasil, o crime de racismo é inafiançável.
Confira a nota completa da CBF:
"A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL vem prestar os seguintes esclarecimentos sobre os incidentes ocorridos no jogo Brasil x Argentina, realizado nesta terça-feira 21/11/2023, no Maracanã, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA 2026.
É importante esclarecer que a organização e o planejamento da partida foram realizados de forma cuidadosa e estratégica pela CBF, em conjunto e em constante diálogo com todos os órgãos públicos competentes, especialmente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Todo o planejamento do jogo, em especial os planos de ação e o de segurança, foi sim debatido com as autoridades públicas do Rio de Janeiro em reuniões realizadas entre as partes.
Os planos de ação e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades presentes. Participaram da primeira reunião realizada na sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), no dia 16 de novembro de 2023, às 11:00, representantes da Polícia Militar RJ, SEPOL, Ministério Público, Juizado do Torcedor, na esfera da segurança pública, além de outros órgãos como a Guarda Municipal, CET-RIO, Subprefeitura, Concessionária Maracanã, SEOP.
Além dos planos de ação e de segurança, os participantes da reunião trataram também de toda a montagem da operação da partida, contando com a participação de todas as partes diretamente envolvidas e responsáveis pela organização da partida e autoridades públicas.
Na segunda-feira (20), o plano operacional para o jogo foi igualmente aprovado sem qualquer ressalva ou recomendação na reunião realizada no Estádio Maracanã, com a presença da CBF, representantes da CONMEBOL, da Polícia Militar RJ, das empresas responsáveis pela operação do Maracanã, e que operam mais de 70 jogos no estádio por ano, e outras autoridades públicas.
A realização da partida com torcida mista sempre foi de ciência da Polícia Militar do RJ e das demais autoridades públicas, pois é o padrão em competições organizadas pela FIFA e CONMEBOL, como ocorre nas Eliminatórias da Copa do Mundo, na própria Copa do Mundo, Copa América e outras competições. Outros jogos entre Brasil e Argentina, até de maior apelo, como a semifinal da Copa América de 2019, também foram disputados com torcida mista. Não se trata de um modelo inventado ou imposto pela CBF.
Ou seja, todo o plano de ação e de segurança foi elaborado e dimensionado já considerando a classificação do jogo como vermelha e com a presença de torcida mista, tanto que atuaram na segurança da partida 1050 vigilantes privados e mais de 700 policiais militares da Polícia Militar RJ.
Portanto, a CBF reafirma que foi cumprido rigorosamente o plano de ação, de segurança e operação da partida, tal qual foi aprovado pela Polícia Militar RJ e demais autoridades.
Por fim, a única recomendação recebida pela CBF de qualquer autoridade pública ao longo de todo o período que antecedeu a partida entre Brasil e Argentina, foi uma recomendação do Ministério Público, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Ordem Urbanística da Capital, para que “NÃO realizem partidas de futebol no ano de 2023 com o formato de disponibilização da carga total de ingressos através de um tíquete eletrônico apresentado mediante exibição do aparelho de telefonia celular, tal como ocorrido na partida da final da Copa Libertadores no dia 04 de novembro de 2023” e que “Exijam no ano de 2023 dos torcedores que se aproximem das catracas a exibição de evidência física (tíquete de papel e/ou cartão de sócio torcedores) de que o torcedor possui um tíquete de ingresso para se aproximar das catracas do Estádio Mário Filho – Maracanã, de modo a evitar a invasão de torcedores que não possuam ingressos para assistir à partida.”
