A Copa América está chegando. O torneio se inicia já na próxima quinta-feira, 20, com o jogo de abertura entre Argentina e Canadá. O Brasil estreia apenas na segunda, contra a Costa Rica, às 22h.
A expectativa com a seleção brasileira não é das melhores, o ano de 2023 como um todo foi muito ruim, e resultou em um grande retrocesso para a equipe. Os dois primeiros amistosos de Dorival Jr. deixaram uma boa impressão, afinal a equipe competiu e teve bons resultados contra duas das principais seleções da Europa, mas os dois amistosos pré-Copa América, contra México e Estados Unidos, serviram como um choque de realidade, para mostrar que a equipe ainda tem problemas que são completamente naturais em um início de trabalho.
Mas todo mundo acompanhou a seleção brasileira, e sabe mais ou menos o que esperar dela. Assim como todos sabem que a Argentina é a atual campeã do mundo, segue jogando em um bom nível e é a favorita ao título. Que o Uruguai tem um bom começo de trabalho do Marcelo Bielsa e também não é carta fora do baralho pensando em título.
A ideia aqui é falar sobre as outras seleções. É tentar fazer uma análise de cada um dos grupos e entender o que esperar do torneio de seleções da América do Sul, que dessa vez também irá contar com delegações da CONCACAF, e fazer uma previsão do que pode acontecer na competição. Sendo assim, vamos levar a análise grupo a grupo:
Grupo A
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Argentina
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Peru
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Chile
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Canadá
(Foto: Reprodução / Canada Soccer)
Esse grupo tem um favoritismo bem claro da Argentina. A base do time é basicamente a mesma que foi campeã mundial em 2022, portanto é uma equipe forte. Porém, não devemos transformar a Argentina em ‘bicho papão’, porque não é. É um time com bons jogadores, que foi campeão do mundo fazendo alguns bons jogos, mas também passou sufoco em várias oportunidades, e não tem um elenco tão recheado de craques.
Os dois principais jogadores argentinos desta geração estão em fim de ciclo com a seleção. Di Maria já anunciou que nesta Copa América ele vestirá a camisa do seu país pela última vez, e é difícil imaginar que Lionel Messi tenha muito mais tempo à frente da seleção, levando em conta que o craque completa 37 anos na próxima semana.
O que podemos cravar é que a Argentina tem um time forte, muito competitivo, que se defende muito bem, e que o técnico Lionel Scaloni faz, no mínimo, um bom trabalho com a equipe.
Por outro lado, as outras seleções do grupo não vivem seu melhor momento, principalmente as sul-americanas. O Peru teve um início péssimo de Eliminatórias, e está na última posição com dois pontos somados em seis jogos. Este começo ruim fez com que Juan Reynoso fosse demitido, dando lugar a Jorge Fossati, que aqui no Brasil foi técnico do Inter, em 2010. E desde então o Peru fez quatro amistosos, em que a equipe foi bem, mas jogando com seleções mais fracas. Nestes jogos, Fossati rodou o elenco e variou formações, portanto é difícil dizer o que esperar do Peru na competição, mas é mais difícil ainda imaginar esse time indo muito longe na Copa América.
Para o Chile, as coisas não vão muito melhor. Eles estão em oitavo nas Eliminatórias, com cinco pontos, tendo ganhado apenas do próprio Peru. E também trocaram de técnico. Eduardo Berizzo pediu demissão, e deu lugar à Ricardo Gareca, que fez um ótimo trabalho na seleção peruana no passado. O Chile não se classifica para a Copa desde 2014, e não vem jogando bem há alguns anos.
Sobra o Canadá, que teve um ótimo desempenho no ciclo para a Copa de 2022, se classificando em primeiro nas Eliminatórias da CONCACAF. Desde então fizeram uma Copa bem decepcionante, e caíram de produção. Precisaram da repescagem para se classificar para a Copa América, já que foram eliminados nas quartas-de-final da Nations League pela Jamaica.
Mas apesar da queda de desempenho, a equipe mantém sua principal característica. Ser muito perigosa no contra-ataque. O Canadá não deve oferecer muita resistência à Argentina, mas deu a sorte de cair num grupo com duas seleções em crise. E o fato da seleção norte-americana ser menos tradicional, pode fazer com que Peru e Chile tentem ter uma proposta de jogo mais ofensiva para enfrentar os ‘Canucks’, o que é o cenário perfeito para um time reativo, como é o Canadá.
Classificados: Argentina e Canadá
Grupo B
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México
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Equador
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Venezuela
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Jamaica
(Foto: EFE)
O Grupo B tem o México como cabeça de chave. Tradicionalmente o México é uma seleção extremamente competitiva, e apesar de nunca ser uma ameaça muito grande pensando em título, é um time que sempre dá trabalho. Mas não podemos cair no erro de basear nossa avaliação no retrospecto histórico e não no presente momento da equipe. O México não é mais o mesmo.
Anos atrás, tendo seleções da América do Norte na Copa América, pensaríamos que a única seleção que poderia dar trabalho seria a mexicana, mas eles estão muito longe de ser a força dominante na CONCACAF, que eles já foram. Eles têm perdido confrontos importantes para os Estados Unidos com frequência, se classificaram em terceiro para a última Copa do Mundo, Copa essa que eles ficaram de fora do mata-mata, pela primeira vez em 34 anos.
O México não vive um bom momento, mas ainda assim, tem condições de passar de fase, contanto que mostrem um futebol melhor do que têm apresentado nos últimos anos.
Entretanto, a melhor seleção do grupo e quem deve passar na primeira colocação é o Equador. Eles vivem grande fase, possivelmente a melhor de sua história, sob o comando do técnico Félix Sanchez. O time tem experiência, com alguns jogadores que são líderes dentro do elenco, tem algumas peças bem jovens, algumas muito promissoras, e tem um número considerável de jogadores que atuam em alto nível na Europa.
Não podemos deixar de falar sobre Kendry Paez, jogador de 17 anos do Independiente del Valle, mas que já está vendido ao Chelsea. É a maior promessa do futebol equatoriano, e já é uma referência técnica para o time. Para uma seleção que não é uma potência, o Equador tem um elenco bem interessante, com jogadores como Hincapié, Caicedo e Enner Valencia, mas também tem dois desfalques importantíssimos que são Pervis Estupiñán, que está lesionado, e o zagueiro Arboleda, que ficou de fora por questões disciplinares.
A Venezuela não pode ser descartada dentro desse grupo, e a presença da ‘Vinotinto’ no grupo, é o que vai forçar o México a jogar bola. Não é uma equipe brilhante, mas é um time extremamente competitivo, que sofre poucos gols e teve um bom início de Eliminatórias. Imaginar a Venezuela arrancando pontos das seleções mais tradicionais do grupo está longe de ser algo improvável, portanto, a equipe está mais do que viva na briga pela vaga na próxima fase.
Por outro lado, a Jamaica não parece ser uma ameaça muito grande às concorrentes dentro do grupo. Devemos sempre lembrar que “não existe mais bobo no futebol”, principalmente se tratando do futebol de seleções. Os Reggae Boys conseguiram a vaga direta ao torneio, sem precisar de repescagem, chegando na semifinal da Nations League da CONCACAF. Mas ainda assim, é a equipe mais fraca do grupo, vai depender muito do seu sistema defensivo para explorar os contra-ataques, e conta com a qualidade de Michail Antônio no centro do ataque.
Classificados: Equador e México
Grupo C
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Estados Unidos
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Uruguai
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Bolívia
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Panamá
(Foto: Getty Images)
A seleção cabeça-de-chave do grupo C é os Estados Unidos. É muito estigmatizado que os americanos não vão saber jogar bola. Mas apesar deles chamarem o esporte pelo nome errado (soccer), a modalidade tem evoluído no país nos últimos anos. Não por acaso, mas pelo investimento que foi feito.
Se você pegar a escalação que enfrentou o Brasil no último dia 12, não só o onze inicial, mas também os cinco jogadores que entraram ao longo da partida, apenas um jogador, Shaq Moore, atua pelo campeonato local, a MLS. Todos os outros 15 jogam na Europa, e com exceção de Ricardo Pepi, que atua no Campeonato Neerlandês, pelo PSV, todos atuam nas cinco grandes ligas.
Os Estados Unidos tem um bom elenco, e um time bem entrosado. Fizeram uma ótima partida contra o Brasil, dentro de sua proposta de jogo, e podem competir com qualquer seleção do torneio, mas já vão pegar um adversário muito forte na fase de grupos, mesmo sendo cabeça de chave.
O Uruguai é um dos favoritos ao título. A seleção cresceu bastante sob o comando de Marcelo Bielsa. Os mais supersticiosos podem achar que o título não vem, porque apesar de ser um dos técnicos mais influentes da história do futebol, e ser citado como referência pelos maiores treinadores do mundo, em quase 40 anos de carreira, ‘Loco’ Bielsa tem apenas seis títulos, sendo que dois deles são com a seleção olímpica (sub 23) da Argentina, e um deles é da segunda divisão inglesa com o Leeds.
Mas isso, na prática, não influencia em nada. O Uruguai é uma seleção forte, e que tem um futebol legal de se assistir. Muito pela marcação individual, que é marca registrada de seu treinador. Mas também por reunir jogadores muito técnicos, principalmente no meio campo, e por ter um estilo agressivo no ataque.
Entretanto, a seleção deixa a desejar na regularidade. Tem ótimas partidas, e nas Eliminatórias venceu as outras duas favoritas ao título. Mas às vezes rende abaixo do esperado contra seleções inferiores. E neste grupo, a ‘celeste’ entra como favorita em todos os jogos, e não pode dar chance ao azar.
Apesar de Uruguai e Estados Unidos ser um confronto bem interessante, e um dos melhores da primeira fase, este grupo parece ser o mais difícil de ocorrerem grandes surpresas, afinal é difícil imaginar as outras seleções do grupo complicando a vida das duas equipes mais fortes da chave.
A Bolívia vive um momento ruim desde o início do ciclo. Eles têm um bom treinador, Antônio Carlos Zago, que já fez bons trabalhos no futebol brasileiro. E até conseguiu deixar o time mais competitivo desde sua chegada. Mas não dá pra considerar a equipe uma grande ameaça, jogando a nível do mar.
O Panamá também passa longe de ser um adversário imponente. Eles tiveram bons resultados no cenário da CONCACAF, eliminaram os Estados Unidos na Copa Ouro do ano passado, e conseguiram vaga direta ao torneio, sendo quarto colocado na Nations League. Mas apesar disso, ainda é uma seleção mais fraca que as favoritas do grupo. Vai competir, não deve ser um adversário tão fácil, mas é difícil esperar grandes surpresas.
Classificados: Uruguai e Estados Unidos
Grupo D
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Brasil
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Colômbia
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Paraguai
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Costa Rica
(Foto: Mauricio Dueñas Castañeda / EFE)
E assim chegamos ao grupo do Brasil. E é bom deixar claro desde já. O grupo não é fácil. Não é querer dar desculpas antecipadas, a seleção ainda tem plenas condições de passar de fase e é uma das favoritas ao título, portanto, obviamente é favorita dentro do grupo. Mas comparando com Uruguai e Argentina, por exemplo, teremos muito mais dificuldades dentro da fase de grupos.
A gente não pode cair no discurso popular e saudosista de que “a seleção não é mais a mesma”, “o Brasil não produz mais craque”, “ninguém respeita mais a seleção brasileira”, pois estas frases são ditas há mais de 50 anos e elas nunca foram verdade. Temos um bom elenco, que não deve nada às principais seleções do mundo. Podemos discutir que algumas seleções, como França e Inglaterra, têm mais peças de qualidade, mas não é como se houvesse um abismo. O Brasil é capaz de competir com qualquer equipe, e mostrou isso muito bem na data FIFA de março. Agora, temos que ser realistas e reconhecer que a equipe tem problemas.
Problemas esses que são naturais em um início de trabalho, e é muito triste estarmos passando por isso, já que o Tite fez um trabalho excelente de seis anos, e quase tudo se perdeu no ano de 2023, muito por uma instabilidade política e decisões muito equivocadas por parte da CBF. E demos o azar de pegar uma equipe bem forte, ainda na fase de grupos.
Mesmo não tendo se classificado para a última Copa, a Colômbia chega para a Copa América em um grande momento, sob o comando de Nestor Lorenzo. Eles estreiam no torneio com oito vitórias consecutivas, e não perdem uma partida desde fevereiro de 2022, quando foram derrotados pela Argentina. Venceram bem o Brasil no final do ano passado, apesar de muita coisa ter mudado desde então, mas vai ser um adversário muito difícil na primeira fase.
Já a seleção do Paraguai vive uma fase ruim. Principalmente falando em sistema ofensivo, é um time que tem muita dificuldade de criar chances e de marcar gols. Em seis partidas de Eliminatórias balançou as redes apenas uma vez. Agora, não podemos cair no risco de achar que eles serão um adversário tranquilo para o Brasil porque a realidade nunca foi essa.
Historicamente o Brasil sofre e tem muitas dificuldades para marcar gol contra a seleção paraguaia. E devemos lembrar que o Paraguai eliminou a seleção brasileira na Copa América em 2011, 2015 e em 2019 conseguiu segurar o 0 a 0 e levou o jogo para os pênaltis. Podemos argumentar que a equipe hoje é pior do que era nessas oportunidades, mas nenhum desses elencos conseguiu se classificar para a Copa.
Falando por último do adversário da estreia, a Costa Rica tende a ser o adversário mais tranquilo da fase de grupos. Não dá pra esperar a “Costa Zica” de 2014, até porque o goleiro Navas, que era o último remanescente daquela geração, se aposentou do futebol de seleções e não estará no torneio. E a equipe vive um momento bem instável. Contratou um bom treinador, Gustavo Alfaro, que deve fazer o time evoluir. Mas com apenas oito jogos no comando, a equipe costarriquenha deve ser o jogo mais tranquilo da seleção brasileira, mas tem condições de aprontar contra o Paraguai.
Classificados: Brasil e Colômbia
Mata-mata
(Foto: CBF)
Se todas as previsões de cada um dos grupos estiverem corretas (o que é extremamente improvável), os confrontos de quartas-de-final serão: Argentina e México, Equador e Canadá, Uruguai e Colômbia, Brasil e Estados Unidos.
Pensando neste panorama, o México pode até jogar como nunca, mas deve perder como sempre. Equador e Canadá deve ser um jogo bem interessante, pois são duas seleções que costumam ter um estilo mais reativo. Por ser superior, é provável que o Equador tenha mais a bola, e precise fazer um jogo mais propositivo, mas precisarão de eficiência, senão o Canadá pode levar muito perigo no contra-ataque.
Brasil e Estados Unidos é um jogo difícil. A seleção americana se defende bem, e deve jogar por uma bola. Ainda assim, a qualidade das peças brasileiras deve prevalecer. E entre Uruguai e Colômbia é um confronto completamente equilibrado. Vai ser um jogo bem difícil, não há favoritismo de nenhum dos lados.
E das semifinais em diante, tudo pode acontecer. Há um favoritismo mais claro da Argentina, apesar do Equador ser uma seleção muito competitiva. E no caso do Brasil, seja contra Uruguai ou Colômbia, a partida é muito difícil, e a seleção vai precisar jogar mais do que o que apresentou nos últimos amistosos. O fato é que a equipe tem condições de brigar por título, mas esta Copa América tende a ser muito disputada.