Blog do Pedro

Retrocesso

Maus resultados são apenas um detalhe; 2023 foi um ano de total retrocesso

Por Pedro P. Lima
Publicado em 7/1/24 às 23:25h. | Última atualização em 7/1/24 às 23:29



(Foto: Thiago Ribeiro / AGIF)

No dia 25 de fevereiro de 2022, o técnico Tite afirmou que deixaria o comando da seleção brasileira após o término da Copa do Catar. No dia 25 de novembro do mesmo ano, Dorival Jr. anunciou oficialmente que deixaria o seu clube, o Flamengo, ao final da temporada. Duas semanas depois, no dia 9, a seleção brasileira foi eliminada da Copa do Mundo pela Croácia nas quartas de final. Dorival Jr. será o próximo técnico da seleção, e tudo indica que ele será oficializado nos próximos dias, em janeiro de 2024. Quase dois anos após o anúncio e um ano após a saída oficial do antigo treinador.

Dorival assumiu o comando do São Paulo apenas em abril de 2023. Ele ficou cinco meses sem clube, em um período em que a seleção brasileira estava sem técnico. Não houve espera, houve perda de tempo. E mais, ao oficializar o acerto com Dorival Jr., a seleção irá selar um retrocesso imenso em relação ao último ciclo pré-Copa.

Isso não é uma crítica ao nome escolhido. Dorival é um excelente treinador, é alguém que soma grandes trabalhos em seu currículo, que é vencedor no cenário do futebol brasileiro e tem potencial para desenvolver um ótimo trabalho à frente da equipe. Existem inúmeros aspectos em que involuímos em apenas um ano.

A Copa de 2022 marcou o fim de seis anos em que um trabalho de excelência foi desenvolvido na CBF. A análise feita em seis anos de trabalho não pode ser baseada em uma competição de sete jogos. Nas duas últimas copas a seleção poderia ter tido um desempenho e deveria ter tido um resultado melhor, mas isso não muda o que foi construído durante um ciclo e meio.


(Foto: Lucas Figueiredo / CBF)

As mudanças que vinham sendo implantadas na CBF eram inegáveis. Havia um projeto claro de futebol, um departamento que funcionava todos os dias, uma equipe que estava o tempo todo focada na seleção brasileira, com uma rede de observação de jogos e mantendo contato com os jogadores. E isso tudo foi desfeito de uma vez só. No ano de 2023, o cargo de diretor de seleções foi extinto, pelo presidente Ednaldo, e tivemos Fernando Diniz como treinador interino, com contrato de um ano (que sequer foi cumprido até o final), que dividia atenções com o Fluminense, e só se dedicava à seleção durante as datas FIFA.

Esta circunstância de técnico interino foi ruim para todo mundo. Diniz é mais um ótimo treinador que teve sua imagem prejudicada pela situação em que a CBF se encontra. Durante toda a sua carreira, ele foi visto como alguém que tinha ótimas ideias de jogo, mas lhe faltava um título para chancelar seu trabalho. E ano passado deveria ter sido a sua consagração, já que ele conseguiu o título da Libertadores, mas isso foi ofuscado. Muitos torcedores lembrarão dele apenas como a pessoa que comandou a seleção brasileira por seis jogos, e teve três derrotas. 

Que fique bem claro: Fernando Diniz não é vítima. Ele aceitou a proposta sabendo que a CBF não planejava que ele estivesse à frente da equipe em 2026, e estando ciente que o projeto seria tocado em moldes que o fadavam ao fracasso. Mas ele também está longe de ser o principal culpado pela crise que a seleção brasileira enfrenta. 


(Foto: Reprodução)

Chegamos a um ponto que, em termos de gestão esportiva e projeto de futebol, não regredimos, voltamos à estaca zero. Todo o trabalho que havia sido feito foi extinto, então mesmo que o Dorival consiga fazer um excelente trabalho, e reconstruir o departamento de futebol da CBF, chegaremos à Copa de 2026 com quatro anos de atraso em relação a 2022.

Como já dito, existe um descrédito ao trabalho do Tite, pelos resultados insatisfatórios nas últimas duas Copas, o que não é justo, mas vamos partir do pressuposto que ele não era bom o suficiente para ganhar o mundial e consequentemente não bom o suficiente para comandar a seleção brasileira. O mínimo que precisava ser feito era buscar um treinador melhor, mais capacitado. Ancelotti seria um exemplo de um nome que seria indiscutivelmente melhor do que seu antecessor. Este não é o caso de Dorival Jr..

Decidir quem é o melhor em uma comparação entre Tite e Dorival Jr. é algo extremamente subjetivo. Estamos falando de dois treinadores que já provaram sua competência e que têm carreiras vitoriosas no futebol brasileiro. Portanto, não há um consenso que estamos dando um passo adiante em relação à escolha do técnico.


(Foto: Divulgação / São Paulo FC)

Querer que o torcedor brasileiro enxergue o trabalho que está sendo feito independente do resultado na Copa do Mundo é querer mudar a cultura futebolística do país. Não funciona desta maneira e isso não mudará. Mas isso não muda o fato de que um projeto de futebol claro é fundamental para uma camisa do tamanho da seleção brasileira. Não é o momento para alarmismo, para decretar o fim do futebol brasileiro pela enésima vez.

O Brasil pode ganhar a Copa com Dorival Jr.. Assim como poderia ganhar com Fernando Diniz, com Ramon Menezes, e poderia ter ganhado com o Tite. São sete jogos, e não necessariamente o melhor trabalho vence. A verdade é que 2023 não foi um simples ano de maus resultados, foi um ano de total retrocesso. Regredimos muito em relação à última Copa, e reconhecer a crise é o primeiro passo para sair dela.

Pedro P. Lima

Vai Ter Copa | 2022 - 2023

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