(Foto: Joílson Marconne / CBF)
No último domingo, 11, a seleção brasileira sub-23 foi derrotada pela Argentina por 1 a 0, e, com este resultado, está fora dos Jogos Olímpicos de Paris, que serão disputados em agosto de 2024. O resultado é péssimo, não podemos cair no erro de achar que a classificação era fácil, mas não chegar às Olímpiadas é ruim. Agora, em uma derrota deste tamanho, surgem muitos alvos fáceis, os principais deles sendo a geração, que tem uma suposta “ausência de talento” e o trabalho do técnico, Ramon Menezes.
A afirmação de que a atual geração é fraca, e não condiz com a história do futebol brasileiro simplesmente não é verdade. Em relação ao trabalho do Ramon, existem inúmeras críticas que podem ser feitas, e tanto ele quanto os jogadores têm a sua parcela de responsabilidade pelos maus resultados. A questão é que não podemos deixar estes fatores tirarem o foco do real problema. A principal responsável pelo retrospecto recente das equipes que representam o futebol brasileiro é a CBF e a estrutura (ou falta de) que foi dada a estas seleções.
Um problema do futebol brasileiro no geral é focar todas as críticas na figura do técnico, mesmo quando o problema vai muito além dele. Isso é algo que pode ser observado mesmo no futebol de clubes. Este texto não é sobre o trabalho de Ramon Menezes, que tem todos os motivos para ser questionado, isto não é uma defesa do treinador. A questão é que para atacar a causa do problema, temos que ir além do campo e bola. Vamos pegar dois exemplos recentes de maus resultados para entender melhor a situação. Vamos analisar a eliminação para Israel no mundial sub-20 e a eliminação no pré-olímpico para a Venezuela.
(Foto: Joílson Marconne / CBF)
Em maio e junho de 2023, o Brasil disputou a Copa do Mundo sub-20 na Argentina e foi eliminado por Israel em uma derrota por 3 a 2 nas quartas-de-final do torneio. A equipe estava concentrada no local da competição, porém, entre a fase de grupos e o início do mata-mata, o treinador da equipe teve que fazer um “bate e volta” no Rio de Janeiro, durante a competição mais importante dessa categoria de base, para convocar a seleção principal para os amistosos da data FIFA de junho. Algo que não estava programado com antecedência, mas que foi definido naquela semana.
Entrando no acontecimento mais recente, o pré-olímpico da Venezuela, não podemos nos esquecer das circunstâncias envolvendo a inscrição da seleção brasileira no torneio. No dia 7 de dezembro do ano passado, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, teve sua eleição anulada e desta forma foi destituído do cargo após uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele foi reconduzido à presidência no dia 4 de janeiro, por uma liminar concedida pelo Ministro do STF, Gilmar Mendes. Uma das justificativas para a decisão foi o prejuízo iminente ao futebol brasileiro, já que a data limite de inscrição para o pré-olímpico era o dia 5, e na situação da entidade naquele momento, não era possível realizar o processo de inscrição. Isso foi feito em um dia.
Além destes exemplos pontuais, não podemos nos esquecer que desde a Copa de 2022, a CBF estava sem um diretor de seleções e praticamente sem um departamento de futebol. Foram 14 meses em que todas as questões relacionadas ao futebol eram tratadas diretamente entre o presidente Ednaldo e as comissões técnicas. Só agora em fevereiro que foram contratados Rodrigo Caetano e Juan, para os cargos de coordenador de seleções e diretor técnico.
(Foto: Divulgação / CBF)
Mais uma vez, a ideia não é defender o Ramon, afinal, seu trabalho é altamente contestável. Até a escolha dele para ser o comandante das equipes de base é algo que desperta questionamentos, mas não podemos ter a visão simplista de que ele é o culpado pelos resultados, sendo que nos últimos 14 meses, a CBF não teve uma estrutura e uma equipe capacitada a frente do futebol. Isso prejudicou, inclusive, a seleção principal. Mesmo com todo o peso da camisa e toda a história que a ‘amarelinha’ carrega, o Brasil amargurou péssimos resultados em amistosos e nas eliminatórias. E se a equipe mais importante, vem sobrevivendo “a trancos e barrancos”, é quase que natural que o elo mais fraco, neste caso as seleções de base, acabe sucumbindo.
O que é curioso é que não podemos dizer que a CBF sempre foi organizada e politicamente estável e que por isso a seleção brasileira conseguiu construir uma história tão vitoriosa no futebol. A verdade, é que em toda a sua história, a entidade foi marcada por escândalos na política, e muitas decisões atrapalhadas em relação ao futebol. Isso deixa mais difícil de entender o porquê que a seleção tem tido resultados tão ruins, seja no feminino, na base, ou na equipe principal. Se analisarmos bem, no presente momento, a CBF tem um buraco em seu departamento de futebol. Um buraco no formato do técnico Tite.
Nos seis anos em que Tite esteve a frente da seleção, ainda houve escândalos políticos na entidade. Um deles, inclusive, ocorreu às vésperas da Copa América e se tornou algo bem público, que foi todo o imbróglio envolvendo Rogério Caboclo. Entretanto, a gestão de futebol que foi feita neste período foi impecável. Isso levando em conta observação de jogadores, análise de desempenho e até a comunicação com a imprensa. Você pode ter ressalvas em relação aos resultados em Copas do Mundo, que não foram o esperado, mas o trabalho é inquestionável. Infelizmente, todo este trabalho foi deixado de lado após a última Copa.
(Foto: Pablo Morano / BSR Agency / Getty Images)
Agora, com Dorival Jr., e com as contratações de profissionais para reconstruir o departamento de futebol, a tendência é de que as coisas melhorem. Na última semana, Dorival viajou à Europa para observar partidas e conversar com jogadores que ele pretende utilizar ao longo do ciclo. Além disso, desde o final de janeiro ele e sua comissão tem cumprido expediente diariamente na CBF. Estas notícias são ótimas, são sinais de que a gestão de futebol na CBF será retomada. Mesmo que resultados não venham logo de cara, é uma demonstração de que o caminho certo está sendo percorrido.
O texto começa falando sobre o resultado das categorias de base e termina falando sobre a seleção principal, mas o tema é o mesmo. A verdade é que nos últimos 14 meses a CBF não se importou com a gestão de futebol ou, no mínimo, agiu como se não se importasse. Esta falta de gestão e comando prejudicou a seleção principal, que normalmente é a marca mais forte da CBF e, consequentemente, foi destrutiva para os elos mais fracos, e as categorias de base são um claro sintoma disso.